Essa era uma das frases mais comuns que eu ouvia da minha mãe enquanto ela estava viva. Em português seria algo como: "aprenda a arte e coloque-a de lado". Meio estranho né? Mas tem um contexto associado que eu explico já.
Meus pais eram italianos e vieram para o Brasil em 1953 devido a uma série de fatores estruturais e familiares. Numa Europa ainda lutando para se reerguer da devastação da segunda guerra era uma possibilidade atrativa que, associados a vários outros fatores familiares, terminou se tornando realidade.
Na cabeça dos italianos dessa época, esse ditado era muito frequente pois eles haviam passado por um evento catastrófico onde o único propósito era sobreviver mais um dia. Um contexto similar ao que vivemos no Ápice da pandemia do Covid-19. Nada era mais central do que chegar ao amanhã, na esperança de ser dia a menos para o final do confinamento e o sucesso das vacinas.
Também podemos associar esse contexto à vida das empresas, startups ou não, submetidas a uma Transformação Digital na marra para simplesmente sobreviver. Como na guerra, não só muitos de nós pereceram como muitas empresas também. O cenário atual continua requerendo o aprendizado rápido e efetivo de uma série de novas habilidades pois o ritmo da mudança está cada dia mais veloz.
Nesse ambiente, temos que resolver problemas mais complexos que envolvem uma grande quantidade de disciplinas. Na maioria dos casos são tantas os conhecimentos envolvidos que a complexidade passou a ser entendida como "interdisciplinaridade". Não temos mais apenas problemas onde números bem medidos nos dizem o que fazer: quantidade de falhas, de devoluções, de reclamações ou o tempo de entrega, por exemplo. Agora, o intangível aparece constantemente. Lidamos como as emoções e sentimentos dos clientes na construção de relacionamentos. É onde as exatas se mesclam com as humanas e o circo pega fogo.
As soluções para esses problemas estão no campo da arte. Na arte de mesclar experiências e conhecimentos, novos e velhos, para chegar a um novo lugar. É dessa arte que sai a frase que constantemente usamos no TechSocial: "o profissional não precisa mais de um currículo, precisa de um repertório". O profissional se tornou um artista na arte de solucionar problemas complexos através da inovação e da criatividade.
A partir daqui fica fácil entender a importância do ditado que minha mãe sempre usava: "aprenda a arte e coloque-a de lado".
Se mantivermos a nossa percepção aberta e sem julgamento às diferentes oportunidades que aparecem no nosso dia a dia, poderemos sempre aprender alguma nova "arte". Não seja restritivo ou arrogante, você nunca sabe quando um aprendizado pode "salvar sua vida"! Por exemplo: tente tocar um novo instrumento, experimente um novo esporte, cozinhe uma refeição diferente, tente tirar a mancha de sua roupa, tire a gordura da grelha após um churrasco. Crie um processo em que cada arte aprendida se junte a tantas outras que você já guardou ao longo do tempo no seu repertório artístico.
Você ficará surpreso com a quantidade de relações que surgirão no seu cérebro quando um problema interdisciplinar (complexo) precisar ser solucionado.
E viva a sabedoria dos nossos velhos e a arte de viver no século 21. Por sinal, esse pode ser o título de um novo post.
