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Contra o Dev Drain, spin offs!


Bom, antes que alguém ache o título nonsense, vamos a algumas definições. Fuga de cérebros ou Brain Drain, “é uma emigração em massa de indivíduos com aptidões técnicas ou de conhecimentos, normalmente devido a fatores como conflitos étnicos e guerras civis, falta de oportunidade, riscos à saúde, ditaduras, totalitarismos, autoritarismos e instabilidades políticas nestes países. Uma fuga de cérebros é normalmente considerada custosa social, humana, filosófica, científica, significativa e economicamente, uma vez que os emigrados obtiveram suas formações de maneira patrocinada pelo governo”. Já falamos de spin off por estas bandas, que em uma tradução livre poderia significar “derivagem” ou “subproduto”. Em tecnologia, quando se gera o desdobramento de outras; num contexto negocial, quando uma empresa surge da cisão de outra para explorar um novo nicho, produto ou serviço; no meio cinematográfico, novos filmes baseados no original. O brain drain científico é por demais batido em veículos como a CNN e a BBC, só para citar reportagens recentes. É um processo de suma importância, mas, ainda assim, de impacto entre médio e longo prazos. Nesta AC, falaremos de outra fuga de cérebros (e dedos), porém de imediato impacto nas organizações e, por consequência, na economia. Falaremos sobre a migração interna e externa, física ou - imaginem só! - virtual, de nossas melhores cabeças, nossos pedreiros digitais, dos desenvolvedores de tecnologia, os famosos Devs. Inspirado no brain drain, chamarei esse problema de Dev Drain. Como não gosto apenas de levantar broncas, pretendo apontar caminhos, uma vez que, além de comprometer a economia, o custo operacional, da gestão do conhecimento e do emocional dos envolvidos é muito alto, o que implica em propostas urgentes.


Por que acontece o Dev Drain?


A resposta é simples, mas não simplista: qualidade de vida! Divido isto em quatro itens: (i) ambiente de trabalho, (ii) ambiente de lazer, (iii) ambiente gregário (família, amigos, relações pessoais diversas) (iv) perspectivas de aprimoramento/avanço (mental, pessoal, profissional etc.). Se um destes itens não estiver funcionando, as pessoas começam a olhar para o teto e se perguntarem: “Vale a pena… faz sentido?”. Abrem-se, então, as porteiras mentais para busca por outros caminhos.


Na era em que estamos vivendo, a de uma possível quarta revolução na qual a tecnologia parece estar abrindo, coincidentemente também, a quarta ferida narcísica encabeçada pela IA, seu principal vetor, juntamente com seus subprodutos (Indústria 4.0, Metaverso, carros autônomos, transformações digitais, proteção de dados, data science, logística por drones, educação, trabalho e lazer remotos; redes sociais, games, streamings, bits, bits e mais bits de informação), surge um sentimento latente de que está se criando (ou deveríamos criar) um sistema nervoso único para a Terra, o que finalmente validaria a hipótese Gaia, conforme nosso bate-papo na AC Um novo organismo.


A necessidade de se implementar tudo isto demanda a formação, quase que instantânea, de uma grande quantidade de pedreiros digitais. Some isso aos poucos que existem e o resultado é óbvio: quem oferecer melhor qualidade de vida, no contexto aqui definido, vai levar não só os melhores construtores, cujo peso já é medido em bitcoins, mas aqueles que “intencionam” se formar no ofício. Já há, por exemplo, empresas oferecendo salários de até R$ 25.000,00 para interessados em aprender data science do zero. E não estou falando apenas de pessoas graduadas, mas que tenham perfil criativo e queiram programar, coisa que já debatemos na AC Formação universal em xeque.


Um case recente (08.fev.2022) para elucidar o que eu escrevi. Amazon: “Valor máximo do salário base anual vai de US$ 160 mil a US$ 350 mil. Decisão da empresa vem depois de recorde de vendas em 2021 e dificuldade para manter trabalhadores empregados”. Isso corresponde a um aumento de 118,75%, anunciado a um público de 1,6 milhão de empregados de vários países! E a reportagem continua falando sobre a decisão: “De acordo com o documento, obtido pela Bloomberg, o aumento se deve à competitividade do mercado. Essa foi uma forma que a empresa encontrou para incentivar os profissionais a permanecerem na empresa". "No ano passado, o mercado de trabalho foi particularmente competitivo. Ao fazer uma análise completa de várias opções, pesando a economia de nosso negócio e a necessidade de permanecermos competitivos para atrair e reter os melhores talentos, decidimos fazer aumentos significativamente maiores (...) Grandes empresas têm enfrentado dificuldade para contratar e reter trabalhadores, especialmente nos EUA. Um fenômeno chamado ‘Great Resignation’ (a grande renúncia, em tradução livre do inglês) marcou o mercado de trabalho norte-americano em 2021. Cerca de 4 milhões de pessoas por mês pediram demissão no ano passado, segundo a Secretaria de Trabalho do país. (...) Muitas pessoas que deixaram seus empregos não têm a intenção de voltar a trabalhar imediatamente. Já em janeiro, foram criados 467 mil novos postos de trabalho. A procura por profissionais qualificados continua sendo um desafio para as empresas. Com a Amazon, não é diferente”.


Nem a “filantropia” da Amazon, nem o melhor IDH dos EUA, estão sendo suficientes para encontrar e reter talentos. Só essas coisas não resolvem! E o que então?


Um pequeno interlúdio, para ajudar.


Quando podemos, passamos as férias da família nos arredores de Nova Petrópolis (Serra Gaúcha). Não por acaso, pois ela é reconhecida como a capital do empreendedorismo da América Latina, devido a seu pioneirismo em cooperativas. De tantas idas, já fizemos amigos e aprendemos a cultura do lugar. O que observamos: tudo é baseado na cooperação, necessidades da região e, fundamentalmente, na passagem de ofícios das gerações anteriores às ulteriores. Na região da serra, inclusive, há abundância de empregos, o que atrai muita gente, inclusive da capital gaúcha. Onde eu quero chegar: a forte cultura empreendedora herdada e incentivada pelos pais garante a retenção dos filhos, por isso seu alto IDH e, digamos assim, “vontade zero” de emigração pelos mais jovens. Os rebentos herdam parte dos afazeres, artes & ofícios, os aprimoram e os amplificam, gerando cada vez mais renda, postos de trabalho e felicidade. Claro que são apoiados pela geração mais velha a se formarem, mas isso não é limitador para o progresso da família, da região. A geração posterior se mantém “presa à terra” por vontade própria, amor, sentimento de pertencimento e construção, e não se tornam cópias de seus pais, mas spin offs deles. Este é o segredo para se sentirem sempre engajados. A galera jovem tem não só o propósito, manter o negócio da família, mas domínio das artes & ofícios e autonomia para ampliar o que já está rodando, ou diversificar seus mundos se a coisa não estiver bem.


O apagão tecnológico de hoje é algo parecido com o apagão agrícola do passado, quando os jovens migravam do campo para a cidade em busca de melhores condições. As condições no campo melhoram devido à tecnologia, provocando a inversão desse fluxo, tanto que o agronegócio impacta em mais de 25% do PIB-Brasil.


Acolhendo os Devs


Para acionar o modo solução, temos primeiro que entrar no espaço problema. O problema foi apontado no interlúdio. A solução é criar um processo de engajamento sincero para Devs! Cito alguns elementos que precisam ser trabalhados pelas organizações (e pelos próprios países, por que não?), que poderiam ajudar a criar uma conexão real entre pessoas e empresas e, por consequência, com suas respectivas terras, evitando o turnover: aproximar as expectativas da realização, criar propósito, capacitar continuamente para que possam ter domínio e autonomia; cultuar o empreendedorismo, prezar pela meritocracia, incluir os Devs na definição das metas da empresa e aproximá-los dos clientes, fazendo brotar o sentimento de dono. E, o mais importante, estabelecer um plano de carreira estimulante.


E porque spin offs?


A demanda por construções digitais já é exponencial, por isso todo mundo quer contratar o máximo de pedreiros possível. Uma batalha baseada em remuneração vai promover uma espécie de promiscuidade empregatícia, na falta de uma palavra melhor, o que conduzirá a interrupções de projetos e, arrisco-me a dizer, quebra de empresas, uma vez que não só a vaga ficará aberta como aquele “codigozinho” porreta, baseado em uns algoritmos brilhantes - além de alguns segredinhos corporativos -, irão juntos com o experiente emigrante para aquilo que costumamos chamar de concorrência! Ou seja, se a empresa que expatriou o pedreiro não quebrar pela falta daquele tijolo digital, vai passar um perrengue com esse mesmo “tijolinho” ajudando a reforçar as paredes daquele desafeto. Massa, né não?


Olhe para o acolhimento descrito anteriormente e veja se a metáfora não se encaixa em uma relação paterno-filial? E é aí que entra o modus spin off de ser. Todas as empresas terão de trabalhar a transformação digital, sendo obrigadas a se converterem em suas próprias evoluções em um tempo muito curto, ou promoverem o que eu chamo de transmutação organizacional (TmO), “matando” a si próprias. Já que 70% das companhias não chegarão a 2030, quem você acha que, estatisticamente, matará a sua empresa senão aquele Dev expatriado naquele ano, o qual você chamará de filho pródigo? Se o modelo não lhe soa agradável, você pode pensar na spin off de sua empresa como uma mini-franquia, na qual a empresa matriz investirá, receberá dividendos relativos à marca por isto, entregará àqueles Devs vorazes um propósito e um mundo para chamar de seu, e, de quebra, por ser mais lean, terá autonomia para testar modelos e apresentá-los à matriz tendo, inclusive, liberdade para desenvolver soluções para outros clientes. A matriz ganharia de qualquer forma. Essa proposta de modelo, base do projeto IncaaS, aprovado pelo CNPq, pode ser vista na AC Market inside Market, no qual as próprias empresas atuariam como incubadoras geradoras de startups e, no caso de instituições públicas, fomentadoras de GovTechs. Imaginem um Mercado pululante de startups-filhas, spin offs, atraindo cérebros e mais cérebros ao invés de expulsá-los?


Finalizando…


Alguém já falou, “Quando trabalhar é um prazer, a vida se torna um lazer”. Junte isso ao aforismo “Melhor ser cabeça de sardinha do que rabo de baleia”, e você saberá como se sente um Dev. Afinal, ninguém quer ser um freelancer com dedicação exclusiva a qualquer emprego eternamente. Todos, não importa a vibe, queremos ter o sentimento de pertencimento a algo. Precisamos incutir essa nova cultura estruturante de fixação de Devs no Mercado, ou continuaremos assistindo nossos talentos “pegando o beco” e aguardar as matrizes definharem. Reter esse drain é uma questão de estabilidade econômica e, logo mais, de existência.

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