Dia desses, recebi o artigo de um amigo, cuja frase final era a citação do saudoso economista Roberto Campos, um dos idealizadores da Petrobras: “O bem que o Estado pode fazer é limitado; o mal, infinito. O que ele pode nos dar é sempre menos do que nos pode tirar”. Pelo outro lado, no Brasil paternalista inaugurado na era Getúlio Vargas, fez-se plantar na cabeça do empresariado médio a necessidade de sempre apostar em subvenções e editais. O resultado, temos um Brasil formado por empreendedores “de espera”: por melhores condições, por um tempo bom, por uma lei, decreto etc. Já que estava na página das frases do Roberto (não o Carlos), aproveitei, então, para buscar outros dizeres desse neoliberalista contumaz: "O mundo não será salvo pelos caridosos, mas, pelos eficientes". Dizeres fortes o suficiente para guiar-me na escrita do texto de hoje, pois concordo com ambos. Então, sem mais delongas e pra mostrar eficiência, vamos ao âmago da coisa avaliando três caminhos.
Caminho #1: Tríplice Hélice (TH)
Desenvolvida por Henry Etzkowitz e Loet Leydesdorff, a abordagem chamada tríplice hélice parte da premissa de que a inovação é dinâmica e sustentável, e parte da articulação entre três atores sociais: a universidade, a iniciativa privada e o poder público. Nessa linha, e há quase três anos atrás, sugeri que a inovação aberta seria esse belo caminho para o trio se encontrar, momento em que a universidade, em parceria com a o setor privado e por incentivo do poder público, fomentaria patentes para serem aplicadas no Mercado e Sociedade. O grande número de conselhos e “desconselhos” que recebi, me fez mergulhar com maior profundidade no tema e fazer consultas a algumas bases de patentes de nossas universidades, com o intuito de verificar a taxa de conversão da ciência em algo palpável, que sugerisse algum tipo de retorno ao próprio processo, a famosa Transferência de Tecnologia (TT). Peguei duas grandes empreendedoras do país: a UFRN e a UFMG, e constatei que a TT é insignificante, o que me fez escrever Inovação: conceito que a Universidade não compreendeu ainda. Em suma, e já pedindo desculpas ao mestre Etzkowitz, vamos esquecer este caminho por enquanto.
Caminho #2: Por que esperar por editais?
Outra coisa que não precisei pesquisar, pois senti (e sinto) na pele, desde que virei professor profissional: a burocracia inerente aos processos. Resumindo a ópera, já apostei em editais e fui contemplado com algo além de uma dezena. Quando olho pra trás e messo a energia que gastei esperando o recurso ser liberado, a prestação de contas, atrasos que me fizeram devolver recursos quando o projeto já havia sido desenvolvido (ou morrido, quando se tratava de inovação), projeto na casa de meio milhão de reais glosado por causa de centavos (refaço os relatórios e envio para um determinado órgão há 15 anos, justificando estes centavos, toda vez que tal fundação muda de gestor), me fez desistir há muito de submeter-me a tais certames. Por este indicador, posso imaginar o que passam empresas pequenas e médias quando se submetem a editais de fundos setoriais, públicos ou privados, com a intenção de utilizar tais recursos para a inovação. Posso então mudar a pergunta desse tópico para “Por que apostar em editais?”. Segunda conclusão, que já deveria ser óbvia: este caminho também não vai dar reggie!
Caminho #3: Pela educação convencional.
Para esse caminho, vou resumir da seguinte forma: pedirei para que você acesse a aula condensada Terão as empresas que se transformar em centros de capacitação?, escrita antes da pandemia; constate que a educação formal já foi pro espaço em Formação universal em xeque, que o apagão tecnológico brasileiro deve chegar perto de um milhão até o fim de 2021, e concluir que um milagre educativo (ou de capacitação) não acontecerá instantaneamente nem aqui e nem na China. Ou seja: caminho a ser repensado!
Uma proposta: Inovação necessita de orçamento próprio.
Os três caminhos sugeridos e perseguidos por algum tempo, já foram trilhados e não creio que estarão em boas condições em curto prazo. Cabe aqui a frase do professor de Harvard, Clayton Christensen: “A pior maneira de se desenvolver um novo modelo de negócio é a partir de um modelo pré-existente”. Ou seja: abandone, pelo menos por enquanto, os três caminhos acima, e observe: as grandes startups (sim, aquelas empresas que pensam rápido e que estão moendo as grandonas que pensam lento) estão se transformando em grandes escolas full-time ao mesmo tempo em que investem seus recursos em seus próprios crescimentos, criando o conceito de scaleup. Perceberam que a Inovação é imprescindível, é puxada, é construída e é consolidada pelo e no Mercado. Ponto final!
Finalizando...
Cabe a nossa classe empresarial/comercial/industrial/etc., principalmente aquela que “mora” no Mercado, tomar uma postura mais empreendedora. Será caro? Será! Será arriscado? Muito! Porém, garanto a vocês - e aos mais de 70% de empreendimentos que não chegarão a 2030 -, esperar pelos três caminhos ou fazer nada será muito mais caro e arriscado.
Saco outra frase do Roberto: “Há três maneiras de o homem conhecer a ruína: a mais rápida é pelo jogo; a mais agradável é com as mulheres; a mais segura é seguindo os conselhos de um economista”. Para sorte de vocês, não sou economista! Sugiro então o risco.
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