Ok, GBB-San! Você diz o tempo todo que devemos fazer o velho “feijão-com-arroz”, buscar por inovações incrementais, aquelas de sustentação, e não se atrever a pensar continuamente em inovações radicais, bichos capazes de gerar ruptura e muito cascalho ($), algumas até surgidas em Vantagem disruptiva, pois i) não há como modelar uma proposta de valor “matadora” de forma preditiva, apesar de isso não ser aleatório mas determinantemente caótico, que (ii) fazer isso constantemente é desgastante, a ponto de poder quebrar o negócio antes mesmo de consegui-lo, e que, finalmente, mesmo que eu pense ter qualquer coisa perto do radical, (iii) o único ente com poder para dizer que algo foi rompido é o Mercado. Muita matemática e lero-lero pro meu gosto, boy! Resumindo: “tô ferrado e vou morrer incrementando!”.
Bom Padawan, tenho uma boa notícia. O histórico mostra que as empresas que geram mais inovações radicais e promovem rupturas são aquelas que inovam contínua e sistematicamente a la incremental e, de vez em quando, estouram a boca do balão. Porém com um adendo: buscam sempre por sementes com potencial de irromper e romper - desculpem a cacofonia, é minha veia poética pulsando! - o status quo. Of Course, brother: eu não posso buscar criar um oceano azul nadando numa banheira, mas há jeitos. “Então você tá insinuando que existe um método, uma receita, um quiprocó, uma mandinga para gerar sementes de sequoia e plantá-la num jardim de orquídeas e, além disso, vai nos brindar nesta AC, dando de graça aqui, em três páginas?”. Exato, boys & girls! Não tudo, mais um pouco do caminho que sigo, pois seriam necessárias duas disciplinas de 60h para bater o conteúdo. Validei isso com alunos do mestrado, da graduação, professores da ECT e até empresários que dizem que funciona, e que “a vida empreendedora-inovadora ‘raiz’ começa apenas depois da TRIZ!”. Rimou sem querer.
Nesta AC, vou resumir um método que desenvolvi para gerar sementes radicais, que pode ser aplicado a qualquer instância de seu P2S2 (processo, produto, serviço, startup). O esforço para conduzi-lo depende de você. Saiba que pensar em inovações incrementais ou radicais requerem o mesmo esforço. Junte isso ao que diria Fernando Pessoa - “O Homem é do tamanho do seu sonho” -, e você verá que ler esta AC será um pequeno e válido esforço.
Modelando sistemática e incrementalmente negócio robustos
As oportunidades podem acontecer de forma reativa ou proativa, quando se detectam ou se criam necessidades no Mercado, respectivamente. Independentemente da forma, a primeira etapa é casar o que um potencial cliente quer (nicho) com aquilo que você (startup) pode entregar. Utilizamos para isso um Canvas da Proposta de Valor (PV). Na sequência, busca-se pelo fortalecimento do encaixe Cliente-PV por meio do desenvolvimento de um modelo de ideia parrudo em torno desse encaixe. Utilizo para isso o Lean Canvas (LC). Se a coisa continuar dando reggae, expando para um Business Model Canvas. Se conseguiu-se validá-lo, aumenta-se o alcance no Mercado por meio de um BMC - vários LCs incorporados ao BMC -, gerando o que eu batizei de Business Hyper Canvas; BHC para os íntimos. Fiz um desenho bacaninha para resumir minha escrita.
Então, maestro dos canvases, eu tenho que fazer tudo isso para radicalizar? Nada disso, essa menina! Há uma peculiaridade, uma única seção de um dos canvases, que ninguém leva a sério, ou não sabe operar(?!), na qual você pode, na verdade, deve, tornar-se especialista. Na unfair advantage, ou “vantagem injusta”, que mora no LC. Esta seção, que deve ser preenchida somente quando o negócio já estiver no Mercado, é a que apresenta maior potencial para criar ruptura. Desenvolvê-la metódica, criativa e dinamicamente é o que vai promover inovações puras. Assim, esqueça todas as seções que falei dos vários canvases e transforme-se em um(a) Unfair Advantage Designer, focando, na verdade, em mais duas: Problemas e Soluções. “Só isso? Ainda não saquei onde você quer chegar…”.
Ciclo de inovação: desenho bacaninha para resumir a escrita.
Contradições: o segredo para o sucesso!
Antes de falar na radicalização, vou falar sobre uma das ferramentas da TRIZ: contradições! Quando algo melhora e outro algo piora ao mesmo tempo, estamos diante de uma contradição. Se o problema envolve especificidades profissionais/pessoais, sendo possível utilizar fatores negociais para resolver esse impasse, está-se diante de uma Contradição Administrativa (CA). Se a bronca envolve questões de metodologia, técnicas, serviços, produção etc., tem-se uma Contradição Técnica (CT). Finalmente, se a questão é inerente ao sistema, coisas que não podem ser resolvidas linearmente por apresentarem paradoxos físicos, você ganhou uma Contradição Física (CF). A sequência CA - CF - CT é incremental: vai da mais simples à mais radical das contradições. E é aí onde mora o perigo e, por outro lado, a vantagem matadora: o caminho percorrido durante a definição dos problemas, análise e encontro da contradição, a busca por uma solução ideal e a implementação de princípios que eliminem ou reduzam a contradição, são a fonte para a criação de invenções que, quando implementadas, transformam-se em inovações. Portanto, quanto maior a contradição, mais interessante será sua solução e, portanto, mais próximo de radicalizar se estará! Buscar por contradições é o melhor caminho para inovar. Massa, né não?
Procurando “sarna” ao competir
“Tá legal: deixa eu ver se entendi então! Tenho um negócio ‘rodando’ e começo a perceber que a curva de minhas entregas começam a dar sinal de queda. Aí analiso e descubro que a concorrência tá ganhando terreno, seja por algum tipo de inovação orquestrada (melhoria do produto, logística, marketing agressivo, preço etc.) ou, de alguma forma, eu deixei de entender o Mercado e minhas soluções estão começando a ficarem ultrapassadas. Então eu vou lá, isolo de forma atômica os problemas, como você sugeriu em Abordagem “Espaço-Problema | Modo-Solução”, busco pelo princípio funcional de cada um deles, algo que você mostrou em Redução aos Princípios aplicada aos negócios, penso em soluções dedicadas, uma para cada problema, as implemento e “bum”, estarei de volta ao topo, nadando num oceano azul? É só isso?”.
Bom, diria que é um começo excelente para um empreendedor-cientista. Meus parabéns! Mas não é só isso; você terá de pensar em como complicar ainda mais seu horizonte! “Eita, lá vem ele!”. Pois é: você está tendo problemas e eu aqui, na boa, sugerindo aumentá-los! Siga meu raciocínio: se sua curva de vendas está caindo paulatinamente, é porque o que está produzindo isto o faz de forma incremental, por competição. E isso é o que você não pode se deixar levar, pois vai te derrubar. Imagine disputas por preço, 4 ou 5% de diferença, ao invés de por valor, melhores produtos? A concorrência pode estar promovendo um dumping (queda abrupta e temporária de preços) para “varrer” os possíveis aventureiros do Mercado. Você, um estrategista nato em inovação, um Unfair Advantage Designer, tem de pensar: a forma de me livrar disto será por mudança de cenário. Não por concorrência, mas por disrupção? E é aí que entram as contradições.
Gerando sementes
Agora ficou fácil. Minha recomendação para sair desse imbróglio: Criar contradições! “Sério, li direito? Estamos ferrados e você sugere botar mais lenha na fogueira, sendo eu o churrasco?”. Sim, isso mesmo. Reúna-se com sua galera de inovação, chame o(a) Unfair Advantage Designer (UAD) de plantão (espero que este seja você), e elabore um plano para sair desse oceano vermelho. O UAD vai dar exemplos. Admita: (P) é uma pergunta, (R) uma resposta e (I) uma sugestão inovadora-radical. Seguem as oficinas.
Oficina #01.
P #01. O que é mais desejado no varejo?
R #01. Produtos customizados.
P #02. E o que não dá para fazer?
R #02. Um produto diferenciado para cada cliente.
I #01: Escale customizando! ou
I #02: Cocrie!
Putzgrila #01 (a palavra seria pior do que essa, claro). Mas como? Crie uma contradição: não use humanos ou utilize muitos outros humanos. Escalar e customizar ao mesmo tempo não poderá ser feito por você in solo. Solução: terá de utilizar máquinas inteligentes. A IA tá aí para isso. Se não tiver esta disponibilidade, divida as tarefas via cocriação: divida a carga com os clientes. Ofereça recursos para que eles mesmos montem seus desejos. A Ikea faz isto e está se dando muito bem. Nesse caso, naturalmente, divida os lucros com os clientes. Utilizando IA, poderia sair mais barato para você.
Oficina #02.
P #01. Logisticamente, o que é mais desejado pelos clientes?
R #01. Entrega feita no menor tempo possível!
P #02. E o que não dá para fazer?
R #02. Nossa loja estar em todos os pontos da cidade!
I #01: Distribua-se!
I #02: Mude o modal: voe!
Putzgrila #02 (idem). Mas como? Crie uma contradição: terceirize sua venda ou Venda para os outros. Subloque lojas parceiras (ou mesmo concorrentes) para que entreguem produtos similares aos clientes quando sua empresa não puder ou estiver longe. O lucro será menor, mas, na média, ambos ganham, pois sua empresa poderá ser a próxima sublocada. Neste caso, observe que seu custo marginal para criar “outras lojas” foi nulo. Praticamente virtual, tipo Netflix, pois você ampliou sua área circulada sem acrescentar um único tijolo. Ou então use drones. Se der!
Massa, né não? Vou parar por aqui, pois não poderei bater problemas em todas as áreas. Na AC Abstração (des)estruturada: a fonte para inovações de ruptura! (Parte I) apresento mais oito pegadinhas nesse nível.
Finalizando…
Vocês sabem como uma semente de sequoia irrompe? Vou responder: sob fogo! As queimadas são os eventos que viabilizam suas sementes. Por isto quis botar você na fogueira do Mercado. Existem várias ferramentas para criar contradições. Mostro um método simples em Criando coisas com o mais poderoso dos brainstormings. Nada do que foi trazido aqui, porém, garantirá que você radicalizará na criação de soluções. Entretanto, duvido muito que você termine esta AC com o mesmo mindset que começou. Agora pode ir plantar sua sequoia, jardinando pequeno ou grande, naquele gramado chamado unfair advantage! Toque fogo lá e veja se nasce alguma contradição radical. Aceito royalties por minha participação.
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