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A Escola do Futuro!


Não sei o que dizer sobre o futuro. Aliás, ninguém sabe. Sabemos apenas que acontecerá em algum espaço-tempo à nossa frente. Sobre a escola, se está nesta coluna, defendo que terá de ser empreendedora e ponto final! Ou melhor, inicial. Por uma questão estratégica de marketing, coloquei dois termos fortes no título - “Escola” e “Futuro” -, mas a mensagem que quero passar é sobre o “aprendizado do presente”, já que a Internet derrubou o muro que encarcerava as escolas e o futuro é simplesmente o avançar incremental do agora. Ou seja: sem presente, sem futuro. Título explicado! Mas onde entra o empreendedorismo?


Há quase dois anos, em uma aula condensada dedicada ao dia das crianças, depositei lá uma frase que li em algum lugar e que, infelizmente, não saberia precisar o(a) autor(a); sobre isto, peço encarecidamente a ajuda dos leitores. O aforismo continha algo mais ou menos assim: “Você não tem de pensar na profissão que vai exercer, mas sim no problema que quer resolver quando crescer”. Os desafios da ONU para 2030 estabelecem 17; já temos por onde começar.


Frase matadora, com o poder de nos questionar sobre a pressão da predefinição das profissões (que nos submetemos ou somos submetidos - advocacia, engenharia, medicina etc.) ou o objetivo que buscamos alcançar na vida, nosso propósito. Qual o mais importante: a profissão ou o propósito? Será que dá pra juntar ambos? O que se quer, afinal de contas, é se sentir útil.


Edtechs: mais do mesmo!


Pra quem não lembra do conceito, Edtechs - aglutinação de education e technology -, são startups orientadas ao oferecimento de novas soluções ou resolução de problemas na área da educação. Massificam o ensino por meio de tecnologia, rede e métodos customizados. Segundo blog da Estácio, havia 566 ativas em 2019. Fui lá, deu uma olhadinha nas top ten, e percebi o seguinte: a fórmula é a mesma. Miram o reforço em áreas específicas (matemática, programação, robótica etc.), seguindo o mantra atual e convencional de que os problemas de hoje – principalmente o apagão tecnológico -, serão intensificados no amanhã, e que todo mundo tem de aprender a programar e depois achar um problema pra resolver. A Edtech que está chegando por estas bandas, tida como a maior da Índia, a BYJU’S Future School, inseriu música nesse enredo. Não sei bem como isto ajudará, mas acrescentou um ponto ao conto. E por que digo isso? Quando escrevi TI é o novo Esperanto há dois anos, sugerindo que os profissionais do futuro serão TI-Advogado, TI-Arquiteto, TI-Assistente Social, TI-Jornalista, TI-Médico, TI-Reciclador etc., não estava me referindo a programadores, mas a pessoas capazes de criarem problemas nessas áreas e poderem colocá-los em forma de algoritmo, para que possam ser resolvidas por máquinas, caso a IN, inteligência natural, não consiga. Isto exigirá treinamento constante em criatividade, objetivos, formulação de problemas, coisas que me inspiraram a desenvolver uma fórmula para as profissões do futuro, as quais estarão associadas à nossa capacidade de criar perguntas geradoras de broncas, o que a IA ainda não consegue. As novas Edtechs ainda continuam apostando massivamente em programação bruta.


Nosso espaço amostral


Por não ter me lançado em um estudo profundo, não possuo argumentos formais para derrubar tais propostas (ou, na verdade, único modelo multiplicado), mas sei onde posso sugerir melhorias, baseadas no espaço amostral ocupado por três estudantes de diferentes idades, no qual a pandemia transformou em laboratório pedagógico: nossa casa. O que sentimos até aqui – uma vez que eu e a esposa tivemos que voltar ao ensino fundamental para encorajar o trio em suas respectivas jornadas -, é que o “onlaine” não funciona muito bem. Se pudesse resumir, diria que a versão online em andamento é apenas um presencial piorado, pois é altamente desmotivante. Quero lembrar que estou dos dois lados, pois sou professor, e a carapuça também me serve. Então, onde está o erro?


Um experimento


Já que criticou tanto, “mestre dos propedeutas”, o que sugere? Começo dizendo que a questão não é tecnologia, mas metodologia. Por isso, além de criticar a forma convencional de como o ensino é conduzido hoje, também não vi revoluções por parte das Edtechs. Como percebi isto? Volto então ao nosso laboratório pedagógico para mostrar por meio de exemplos.


Exemplo #01. Nosso filho de 14 anos. Brincando no jogo Age of Civilization II, percebeu a disposição errada de algumas fronteiras. Sem problemas: abriu o skin e reposicionou, do zero, 227 países e suas respectivas fronteiras “de cabeça”, trabalhando também em linha de código. Não preciso dizer que corrige os colegas de classe e, em uma dada aula online, corrigiu até a professora sobre o número de capitais de um determinado país.


Exemplo #02. Nosso filho de 12 anos. Esse se deu no Roblox. Começou, há uns dois anos atrás, pagando da própria mesada a assinatura do jogo. Fez alguns desenhos, a turma foi gostando, e foi subindo na hierarquia do game. Resultado: virou designer líder de um grupo de 3.000 inscritos e deixou de pagar por algumas opções lá dentro. Também é quem “contrata” os outros designers no clã, sem falar que a comunicação é feita em inglês. Num dia desses, peguei ele conversando via Discord com um garoto russo. Não entendi nada, mas eles sim, pois riam muito. Agora está investindo nos skins do game Friday Night Funkin.


Exemplo #03. Nosso filho de 08 anos, no Greenville do Roblox. Compra e vende carros o tempo todo dentro do ambiente. Certa vez, ao observá-lo, reparei que estava vendendo (ou devolvendo) um carro mais novo e comprando um mais velho. Ele explicou-me que iria fazer participar de uma jornada mais longa no jogo e como o carro mais velho perdia um valor menor (absoluto), usaria este e depois revenderia para pegar um mais novo. Se utilizasse o mais novo para a mesma jornada, gastaria mais “robux”, o dinheiro do jogo. Ou seja: noção tácita de amortização e desgaste. Podemos dizer que foi um bom aprendizado em economia.


Skin do app Friday Night Funkin. Powered by Tarciso.


Propósito, a forma de motivar o aprendizado!


Não são exemplos excepcionais, mas motivacionais e, para mim, esclarecedores, uma vez que todos estes aprendizados foram autodidatas e, até onde eu sei, externos à sala de aula. Gênios? Não, longe disso. Apenas motivados. Ou melhor, objetivados. Creio que os exemplos não se encerram em nossa casa. Utilizei estes casos reais para mostrar que se contrapõem àquilo que tentei fazer há um ano: ensiná-los a programar em uma linguagem de alto nível (Python). Resultado: fracasso total, dada à falta de motivantes. Agora vejo os rebentos aprendendo a se virarem sozinhos (ou com amigos) para corrigir, aprimorar, entender programas, usando a lógica algorítmica e absorvendo a linguagem do mundo atual praticamente sem esforços. Em breve perceberão, por conta própria, a necessidade de mergulharem com maior profundidade no manuseio de ferramentas. Python poderá, ou não, ser uma delas. O que vi aqui: os objetivos criaram propósitos. Estes promoveram o autodidatismo, que levou, naturalmente, à composição de habilidades. Problem-driven skills! Foi mal: botei assim pra dar um tom mais tech. Não sei nem se existe. Em português: habilidades orientadas por problemas! De preferência, aqueles que eles desejam resolver. Tenho de me preocupar em ensinar a programar alguma linguagem? De forma alguma! Além de não saber se estarão motivados a aprender, quem garantirá que tal linguagem não estará obsoleta daqui a alguns anos. Já o algoritmo para juntar dados, formular problemas e verificar as condicionantes será o mesmo. Posso dizer que estão preparados. Agora posso apontar a principal falha do sistema convencional e o erro que as Edtechs estão repetindo tecnologicamente: ao invés de buscar por dons inatos e tentar reforçá-los, utilizam métodos para vocacionar. Essa galera, se me permitem o trocadilho, já nasceu programada. Reforçar o que possuem é muito mais produtivo, e menos frustrante, do que reprogramá-los.


E para aqueles que não têm a mesma sorte dos meus...


Desde de antes de 2020, sabemos que a escola pública vinha em frangalhos. Os índices PISA do Brasil falam por si. De março de 2020 até hoje, o verbo “vinha” foi substituído por “não há”. Não precisamos entrar no mérito político, pois, no Brasil de sempre, é impossível entender o porquê de as primeiras vítimas sempre serem a Educação e a Saúde. Como positivista, posso sempre apontar soluções: já que os governos estaduais e municipais – pelos motivos que sejam – não dão minimamente conta do recado, por que não abrir espaços para as Edtechs, por meio de subsídios, leis de amparo, renúncia fiscal etc.? A educação privada, por conta da pandemia, piorou. Neste contexto, meus filhos não serão educados "perfeitamente". Porém, pelo menos, possuem algo. Mas enquanto aqueles que, diferentemente dos meus, não têm acesso a uma estrutura mínima? Essa galera toda merece ser ainda mais alijada do processo educacional; merecem não ter a mínima chance de mudar a vida pelo melhor meio que existe? Não falo em substituir a (inexistente) escola pública, mas adicionar Edtechs de forma complementar. Pelo menos garantir-se-ia o mínimo de contato instrucional profissional. Dar-se-ia um mínimo de esperança! Haveria uma menor exclusão.


Finalizando...


Hoje é 11 de agosto, Dia do Estudante. Um bom momento para refletir como eu, você, nós pretendemos crescer? É melhor escolher/definir uma profissão para resolver problemas que nem sei quais serão, tornando-me obsoleto, ou me preparar para criar soluções conforme os problemas aconteçam? A vida profissional não será um teste de múltiplas escolhas, cuja resposta estará nas alternativas ofertadas. Empreender é buscar por opções que não foram listadas. As escolas poderão até utilizar jargões como “futuro”, “amanhã” etc., mas terão de entender e praticar o aprendizado “no” e “do” presente. Pode parecer óbvio, mas hoje é o amanhã de ontem; amanhã o futuro de hoje. O que faremos agora para termos um futuro diferente? Sentiu como é incremental?


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