Gláucio Bezerra Brandão

6 de set de 2022

Desenvolvendo futuros incrementais e disruptivos

Se eu dissesse que seria uma AC sobre prever futuros incrementais (tendências) ou disruptivos (“Nostradâmicos”), estaria mentindo, assim como qualquer um que seja intitulado, ou se auto-intitule, futurista ou visionário! Ninguém sabe o que vai acontecer e ponto final!

Em aspectos futuristas, gosto muito de aplicar o que eu chamo de Muro de Drucker: “A melhor forma de prever o futuro é criá-lo”, diria o guru da administração! Ou seja, tentar olhar o que tem do outro lado através de um muro é impossível; mas o que separa você de um futuro que está logo ali, ou mais distante, pode estar nas ferramentas que você tem em mãos, aquelas que sejam capazes de te ajudar a construir uma boa escada para apoiar no muro. Não garanto que você, ao subi-la, vá enxergar muita coisa além. Entretanto, posso afirmar que poderá olhar para trás e - já que tem uma vantagem em altura - saber o que muita gente anda fazendo e, com base nessa olhadela em horizonte passado, construir algo novo… Erigir um futuro viável. Nesta AC, varrerei as ferramentas de futuro que já apresentei por estas bandas e mostrarei uma nova abordagem, dando dicas de como construir uma boa escada. Ao terminar a leitura desta AC pragmaticamente futurista (no sentido de montar futuros), você será capaz de olhar de cima do muro e saber, pelo menos, o que não deve ser feito. Portanto, recomendo que chegue até o futuro desta AC, que está uns 5 minutinhos adiante.

Olhando “escadas” passadas

Já apresentamos para vocês o canvas especulativo 9W, ferramenta preferida entre 11 de 10 pessoas que têm contato com ela; como os sistemas evoluem por meio de meta-padrões; listamos modelos estatísticos baseados em 0.9, os quais determinam até onde uma empresa, startup, cidade, ser vivente pode crescer; apontamos tendências científicas de última geração que se modificam em tempo real; como tudo está caminhando da posse para o acesso, e até diagramas baseados em KPIs e OKRs que mostram onde se está, os pontos fracos e para onde se deve ir, quando o assunto é transformação digital. A leitura destas ACs vale a pena, mas vou parar por aqui, pois as “escadas” passadas mostram como progredir em futuros incrementais. A ideia de hoje é ir além: utilizar a 9W para esquematizar futuros disruptivos.

Caos, correlação e aleatoriedade

Para entender sobre criação de futuros, é importante compreender os conceitos de caos, correlação e aleatoriedade. Estes dois últimos são mais simples. Como mostrado na AC Carro intolerante a baunilha e o conto da correlação, a correlação retratada “... dependência ou associação, é qualquer relação estatística (causal ou não causal) entre duas variáveis. É qualquer relação dentro de uma ampla classe de relações estatísticas que envolva dependência entre duas variáveis. Embora seja comumente denotada como a medida de relação entre duas variáveis aleatórias, correlação não implica causalidade. Em alguns casos, a correlação não identifica dependência entre as variáveis”. Já a aleatoriedade está associada a eventos ao acaso, imprevisíveis, arbitrários ou incertos. Não há como desenvolver modelos. Acontecem quando querem e pronto. Sobrou então o mais interessante, o Caos. Este é top! Como mostrado na AC Domando a natureza caótica da Inovação ele é - imaginem só!!! -, determinístico! Uiaaaaaaaaaa! Como assim?

Todo sistema que depende fortemente das condições iniciais de suas variáveis, e é muito sensível a elas, é um sistema caótico. Ou seja: se eu conseguir replicar a força, posição e o lugar em que eu arremessarei um determinado dado (aquele poliedro de seis faces, tá legal?!), e admitindo que o ar esteja do mesmo jeito, ele sempre cairá com a mesma face para cima. Ou seja, a posição final do dado é uma variável que depende exclusivamente das condições iniciais. É, portanto, muito difícil de replicar, a ponto de parecer aleatório, mas não impossível. Assim é o Mercado. Se ao montar uma startup eu tiver condições de juntar a maior quantidade - com qualidade, óbvio - de informações, eu aproximo cada vez mais minha solução do alvo, por isto tipos e quantidades de pesquisas de Mercado são tão importantes. Aprendamos juntos, então: o Mercado não é aleatório; é um ente caótico; trocando em NFTs, ele é determinístico e, portanto, incrivelmente, PREVISÍVEL! Massa, né não? Onde eu quero chegar: dá para criar futuros disruptivos partindo de tendências, os futuros incrementais.

Por onde começar: uma semente de futuro!

Como você trabalha, ou melhor, especula futuros, GBB-San? Bom, eu gosto de seguir umas regrinhas. Primeiro, busco na WEB por tendências “ditadas” por grandes escritórios, laboratórios, consultorias etc., que estudam e vivem disso. A WEB está cheia. Dou alguns exemplos de onde extrair inspiração: 17 ODS da ONU, McKinsey, World Economic Forum, Klab, YCombinator, Delloitte,, Singularity, Sebrae, Google Patents etc., e do meu site preferido, Nasa Spinoff. Depois vou filtrando. Passo do nível que para mim é o mais “viajante” - aquilo que ainda considero ficção científica -, para coisas inesperadas; depois para as desejáveis. Na sequência, busco as esperadas e, por último, as necessárias para a humanidade naquele momento. Traduzindo: algo realizável para o público que quero alcançar. Claro que posso também começar por minha própria solução P2S2 e expandir. Caso você tenha muito gás, nada te impede de começar pela ficção. Pronto: temos uma semente para começar a especular.

Escolhendo uma semente de futuro: da viagem na maionese a algo palpável!

Gerando futuros incrementais

Agora que tenho uma semente, coloco-a no centro do canvas especulativo 9W (janela azul grafada com um “A”) e começo a desenvolver meu futuro controlável. Faça uma análise do que compõe minha semente e coloco na janela “B”; isto constitui o subsistema de minha semente. Depois disso, descrevo onde minha semente se encaixa, depositando esse contexto na janela “C”; essa descrição é o supersistema ao qual minha semente pertencerá. Pronto: a coluna do presente está preenchida!

Canvas especulativo 9W: expandindo uma semente de futuro.

Da célula “A”, volto no tempo para entender como cheguei aqui. Jogo na janela “D” o que existia como solução antes da semente. Exemplo: se a semente escolhida foi um carro elétrico, posso colocar em “D” um carro a combustão. Mantendo este exemplo, em B haveria bateria, pneus, computador de bordo; em “C”, vias, ambientes sem CO2, abastecimento elétrico etc. Da janela “D”, desço à “E” e escrevo seus componentes: pneus, motor a explosão, carenagem etc. Seguindo a mesma lógica, em “F” eu teria, ambiente com CO2, vias sujas e postos de combustíveis, por exemplo. A coluna do passado está ok. Agora vamos aos futuros incrementais. Partindo de “A”, posso sugerir drones, carros com células de hidrogênio, veículos feitos à base de grafeno etc. Em “H” suas respectivas estruturas: hélices, controles inteligentes e por aí vai. Em “I”, uma estrutura que abastece o carro por indução, vias aéreas exclusivas para drones e o que a imaginação der. Fechada a coluna do futuro, têm-se mais 8 possibilidades para trabalhar futuros incrementais; 8 novas oportunidades. Você pode, por exemplo, escolher umas das células, transformá-la em semente e começar outro canvas 9W. Observe que a expansão a partir de uma dada semente não tem fim. Cada uma das janelas pode gerar várias novas oportunidades de negócios. Enfim, não se pode mais reclamar da falta de criatividade. As possibilidades com a 9W, partindo de sua solução, tornam-se infinitas. Todas futuros controláveis.

Gerando futuros disruptivos

Observe que o exercício que executamos até aqui foi o de promover futuros próximos, em torno de uma semente, tomando por mote tendências sugeridas ou imaginadas por nós mesmos. Nosso progresso se deu linearmente entre janelas e, literalmente, de modo incremental. Lembre também que investimos em boa parte do papiro para descrever o caos, sua dependência sensível às variáveis de entrada e como ele é determinístico. Agora, vou juntar tudo para mostrar como podemos criar futuros disruptivos determinísticos bem facinho!

Utilizando os futuros incrementais que desenvolvemos (cada janela) como variáveis de entrada para controlar futuros disruptivos, escolhamos qualquer combinação de duas, três ou até quatro janelas ao acaso, e tentamos associá-las de maneira a poderem representar uma única semente. Exemplo: Como poderíamos associar as janelas A-H-I-E (carro elétrico & Hélice & abastecimento por indução & motor a explosão) numa única semente? Vou dar uma sugestão: carro com motor híbrido, que utilizasse etanol (renovável, requisito do futuro) e uma hélice - em alguma parte de sua estrutura - capaz de converter o movimento do fluido do ar (que passa por ela) em energia elétrica, usando um motor de indução. Não sei se faz sentido, pois cabe refinamento, mas é uma ótima variável de entrada - ou semente - para um novo futuro disruptivo, pois não possui uma ligação linear direta com o carro elétrico, além do fato de que qualquer mudança na combinação de entrada provocaria uma mudança radical na semente, e está, assim como uma mudança em uma das variáveis do dado, geraria um futuro totalmente novo. Podemos, então, utilizar o carro-etanol-hélice como semente para outra 9W!!! Que loucura, né não, fazer brotar um futuro determinístico e caótico bem em nossa frente, utilizando apenas nosso presente e passado!

Futurando…

Gosto de pensar que “Promover disrupções é acertar o futuro”, já que estamos criando-as e criando-o, respectivamente. O exemplo da 9W disruptiva - uma escada para apoiar no muro que nos separa do futuro -, nos deu o carro-etanol-hélice, gerado ao acaso e no momento em que escrevia esta AC. Olhando daqui de cima do muro, em minha análise, aposto ser esta semente mais viável do que o carro elétrico atual, que defini como uma inovação hipertrofiada. Bom, espero ter cumprido a promessa feita lá em cima, no passado desta AC, e tenha conseguido provar que o Mercado é caoticamente determinável. Tenho certeza que daqui para frente você pensará diferente sobre seus futuros negócios e o futuro de seu negócio. “Ao infinito e além!” [Buzz Lightyear].

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